O Cabula faz parte da chamada Região Administrativa XI, denominada também de Cabula, sendo esta, parte integrante das dezoito Regiões Administrativas de Salvador. Assim, a referida Região, da qual o Cabula VI não faz parte, apesar do nome, tem como parte integrante de si, além do próprio bairro do Cabula, os bairros do Resgate, de São Gonçalo, Doron, Saboeiro, Engomadeira, Pernambués, Narandiba e Saramandaia.
Origem e significado do nome Cabula
A palavra Cabula é de origem africana, mais especificamente, de origem quincongo (Kabula) e a mesma, que hoje nomeia o referido bairro de Salvador, apresenta três classificações em termos gramaticais: nome próprio, personativo feminino e verbo. Além disso, a palavra apresenta em sua etimologia o seguinte significado: ritmo de característica religiosa, bastante dançado, tocado e cantado.
A escolha do nome Cabula para “batizar” o local deu-se, portanto, em virtude do mesmo ter sido um lugar onde o ritmo Kabula fazia-se bastante presente na área em questão, uma vez que a mesma era muito habitada, porém não só, por indivíduos escravizados, de origem africana, que buscavam refúgio na região de mata densa.
Os primeiros habitantes do Cabula – Quilombo, escravidão, sobrevivência e resistência
No que diz respeito à povoação, é possível afirmar que, uns dos primeiros habitantes da região do Cabula foram populações de origem indígena e indivíduos escravizados de origem africana, os quais buscavam no mencionado lugar, refúgio em face ao regime escravocrata e que criaram ali uma grande e significativa região quilombola. Sabe-se que a região do Cabula foi, historicamente, um local de resistência de populações interessadas em desenvolver um modo de vida alternativo em relação ao ofertado pelo processo de colonização. Assim, é lícito afirmar que, os indivíduos que ali se refugiaram, conseguiram criar um estilo não só alternativo como também, singular de existência e de sobrevivência. Os indivíduos que ali reuniram – se, conseguiram organizar um agrupamento social sob aspectos vários, como a dimensão econômica e a dimensão religiosa, por exemplo. Além dos dois primeiros grupos citados, é lícito afirmar também a presença de homens brancos, proprietários de escravizados na origem do bairro em questão.
Em virtude do fato de que o Cabula constituía-se enquanto uma região de mata densa com solo fértil, bastante propício para o desenvolvimento da agricultura, as populações quilombolas que ali habitavam conseguiram encontrar modos de subsistência, sobretudo por meio da plantação de laranjais. Do ponto de vista da dimensão religiosa, é lícito afirmar que estas populações realizavam cultos religiosos vinculados às tradições de origem africana, a elaboração de medicamentos produzidos a partir de ervas naturais e os chamados serviços de cura, fato que atraía pessoas de outras regiões da cidade de Salvador, além dos próprios habitantes da referida região.
O quilombo do Cabula ganhou tanta notoriedade com o passar dos anos que despertou a atenção do poder público, uma vez que passou a significar uma ameaça, pois, seu exemplo poderia ser passível de inspiração para outros grupos no que tange à sua força de resistência, de subsistência e a sua capacidade de organização social. Assim, ao longo do século XIX, o quilombo do Cabula foi alvo de ataques por parte do poder público, o qual, por ordem do então Governador Geral do período, intitulado 6º Conde da Ponte, cujo nome de Batismo era D. João de Saldanha da Gama Mello e Torres Guedes de Brito, cuja vigência de governo estabeleceu-se entre 1805 – 1809, ordenou a desarticulação do mesmo, que ocorreu no ano de 1807.
Ainda sobre a questão da religiosidade no que tange o quilombo do Cabula, é imperioso destacar a presença da figura feminina, parda, com limitações de mobilidade física, denominada de Nicácia da França. Nicácia da França era uma mulher considerada pelo poder público enquanto uma das lideranças da referida localidade e sua notoriedade dava-se, sobretudo, pelos poderes a ela atribuídos do ponto de vista espiritual. Muitas pessoas, a procuravam, para além dos domínios do Cabula, para que a mesma realizasse adivinhações sobre assuntos de seus interesses. No contexto da desarticulação do quilombo do Cabula, Nicácia da França foi encarcerada a mando do 6º Conde da Ponte e sua prisão foi acompanhada por muitos daqueles que a conheciam e para os quais ela disponibilizou seus préstimos espirituais, tamanha sua importância e popularidade para o referido contexto.
Diante do exposto, é licito afirmar que, apesar da ação das tropas do então Governador Geral, 6º Conde da Ponte, e da consequente desarticulação, ainda que momentaneamente, do quilombo do Cabula e da prisão de vários habitantes da localidade em questão, entre elas Nicácia da França, o Cabula não deixou de constitui-se enquanto um exemplo e uma inspiração para aqueles dispostos à resistência no que tange à colonização. Seu caráter de luta propagou-se ao longo ao longo da História e está presente, de certo, até os dias atuais.
Assim, o bairro do Cabula desenvolveu-se tendo como uma das suas principais características o fato de ter tornado-se uma região eminentemente quilombola, na qual os indivíduos que ali estiveram, em sua gênese, pleiteavam um estilo de vida alternativo em relação ao oferecido pelo sistema colonial. Em outras palavras, a origem do povoamento do Cabula significou não apenas um movimento de ocupação de uma dada localidade, mas, um movimento de resistência e de sobrevivência, o que evidencia sua característica de luta, oriunda da ancestralidade de suas populações pioneiras.
Das chácaras e fazendas à modernização do Cabula
A localidade do Cabula caracterizou-se historicamente por ser uma área de mata na qual houve o desenvolvimento de uma importante produção agrícola na qual destacou - se a produção de laranjas. O território no qual hoje está estabelecido o bairro em questão foi, durante o século XVI, doado por Thomé de Sousa a D. Antonio de Ataíde, mais conhecido como Conde de Castanheira, porém, tempos depois, a área, situada na região periférica (para além da região urbanizada de Salvador), passou por um processo de arrendamento por parte de Natal Cascão.
No decorrer do tempo, os laranjais sofreram um ataque de pragas que destruíram grande parte dos mesmos, o que resultou na consequente venda das fazendas que as produziam e assim, estas foram demarcadas em partes menores. Em relação ao atual aspecto do bairro do Cabula, é possível afirmar que o mesmo começou a delinear - se nos idos dos anos setenta, momento histórico no qual o Brasil encontrava-se em pelo Regime Militar (1964 – 1985). Neste período, houve a construção dos primeiros condomínios habitacionais, uma das características mais marcantes da região, a qual concentra um número significativo deste tipo de moradia.
Imagem do Conjunto Recanto do Cabula
Fonte da Imagem: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cabula_(Salvador)
Imagem da Rua Silveira Martins
Fonte da imagem: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cabula_(Salvador)
Atualmente, o bairro do Cabula, no que diz respeito ao seu processo de modernização, conta com a ampliação do caráter habitacional que apresenta- se como um dos principais aspectos do referido local, a partir da década de setenta do século XX, quando os primeiros conjuntos habitacionais foram inaugurados. Além da forte presença dos conjuntos habitacionais, há no Cabula a presença de várias escolas tanto particulares, como o Centro Educacional Vitória Régia, o Colégio Resgate e o Colégio São Lázaro, como públicas, a exemplo do Colégio Polivalente do Cabula e o Colégio Estadual Governador Roberto Santos. Ainda no que concerne às instituições de ensino, entre as de nível superior, é imperioso destacar a presença da Universidade do Estado da Bahia – UNEB e da Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública, localizada nas imediações do Hospital Geral Roberto Santos.
Além de caracterizar-se como um bairro cuja uma das marcas é a questão habitacional e das instituições de ensino de níveis diversos, entre eles as de nível superior, destaca-se no Cabula a presença de alguns centros de compras, entre os quais figuram o Shopping Master, o Shopping Plaza e o Shopping Bela Vista Salvador. No que concerne à presença de outras instituições e empreendimentos, é possível citar a presença de agências bancárias, grandes redes de farmácias e redes de supermercados. Em relação à dimensão econômica do bairro do Cabula, é lícito afirmar sua forte tendência comercial, pois, nas imediações do bairro em questão, faz-se presente a chamada Estrada das Barreiras, a qual constitui - se enquanto um dos maiores centros comerciais e de prestação de serviços da capital baiana.
Mto enriquecedor este resgate histórico de um bairro como o Cabula q traz referências tão marcantes do contexto histórico brasileiro e ainda hj é o bairro de destaque comercial e social em Salvador.
ResponderExcluirMaravilhoso esse recorte histórico sobre o bairro do Cábula, tão perfeito que eu poderia fazer uma pesquisa sobre o bairro, só com essas informações.
ResponderExcluirMuito pertinente seu ĺog.uma excelente fonte de pesquisa Adorei Parabetss
ResponderExcluirExcelente abordagem histórica acerca desse importante bairro.
ResponderExcluirParabéns Daniela pela sua pesquisa que é de grande relevacia destacando os principais pontos do Cabula.
ResponderExcluir👏👏👏👏👏É desse tipo de esclrecimento que a populacão precisa saber para reconhecer que as conquistas se consegue com luta. Excelente abordagem
ResponderExcluirBelissima
ResponderExcluirBelíssimo trabalho, isso só nos enriquecen muito mais.